sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lisboa, 30 de Setembro

Apesar de estar consciente do meu problema  já não conseguia parar, por muito que quisesse, isso já não estava sob o meu controle, por mais que eu desejasse parar de vomitar, não conseguia, pois agora já era o meu corpo que me dominava.
Tinha passado quase um ano a tentar domina-lo, obrigando-o a fazer algo que não pertencia à sua natureza, ele não o queria fazer, eu sabia que não, até porque já tinha estudado em ciências as várias consequências desses actos.
Provocar o vomito, foi sempre um acto consciente, eu sabia as consequências, mas achava que valia a pena sofre-las se deixasse de ser gordae nunca cheguei a pensar que chegaria a este ponto. Sabia que aquela dor que sentia sempre que colocava os dedos da boca, ia permanecer sempre lá, mas à medida que o tempo ia passando eu própria ja me tinha habituado a ela, mas agora, era eu que já não queria mais e simplesmente não conseguia parar. Sempre que ingeria qualquer tipo de alimento, a primeira reacção era sempre vomitar. Apesar de eu querer que aquilo parasse, era algo impossível de controlar, portanto a minha ultima opção era parar de COMER.

Liliana

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Lisboa, 16 de Setembro

Olhava-me ao espelho e parecia que tudo continuava igual. Parecia que este tempo todo, torturando-me a mim própria  não tinha valido de nada, parecia que tudo tinha sido em vão. Custava-me ver o meu reflexo... quer seja num vidro, num espelho e até mesmo na água. Tinha vergonha de mim, daquilo que era, daquilo que me transformara.
Sabia que não estava certo, já o tinha lido antes, em livros, na Internet. Eu sei que a maioria das pessoas pensa sempre que as bulimicas (sim, estou a admito-lo) não sabem que provocar o vomito é errado. Nós sabemos, simplesmente não é algo que queremos fazer, nós temos de o fazer.

Liliana

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Lisboa, 5 de setembro



Voltei para o Hospital passado uma semana, pois fui novamente apanhada pela minha mãe na casa de banho, já que ela agora andava muito mais atenta.
No final de uma semana inteira trancada no Hospital, os médicos disseram que eu não estava preparada para voltar para casa e que a minha suposta "bulimia" ainda não estava curada, disseram que fisicamente já estava pronta, mas que psicologicamente sabiam que ainda estava fraca, dizendo "A Liliana ainda não tomou consciência do meu problema". Eu sabia que tinha agido mal, tomando aquela reacção depois de me terem dito que eu continuava a ser bulimica e que aquela semana que anteriormente tinha passado lá não valera de nada, sabia que não deveria ter começado logo aos berros a dizer que eles estavam doidos e que não era bulimica. Então, quando me apercebi desse terrível erro, decidi remedia-lo. Comecei pelo psicólogo, dizendo-lhe : "Eu sei, sei que cometi muitos erros, que não deveria ter começado a vomitar e a fazer esta dieta sem controlo nenhum, mas estou arrependida e agora só quero ficar bem", cheguei mesmo a começar a chorar para mostrar o meu "suposto" arrependimento  A conversa foi igual com a minha mãe e com os restantes médicos e enfermeiros.
Finalmente voltei para casa, e poderia continuar com a minha dieta. Agora, seria muito mais cuidadosa e exigente comigo mesma, pois tinha passado duas semanas a ingerir calorias.

Liliana

sábado, 3 de setembro de 2011

Lisboa, 3 de Setembro

Como é óbvio e como seria de esperar aquela semana no Hospital de Santa Maria não adiantou de nada, não seriam apenas 7 dias que me iriam fazer desistir da minha dieta e principalmente não me iriam fazer mudar de ideias quanto ao facto de SER gorda. Eu era gorda e admitia-o sem qualquer complexo, era um facto… mas um facto que em breve iria ser modificado.


Liliana

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Lisboa, 2 de Setembro

Fui obrigada a lidar com tudo; nutricionistas, psicólogos, familiares a perguntarem "porque ?!" e eu simplesmente a responder "agora estou bem" quando o que me apetecia dizer era "Porquê?! Are you kidding me ?! Eu sou gorda, sempre o fui e vocês sempre me disseram e agora fingem que estão preocupados quando é somente uma capa que vos tapa a alma, uma capa que esconde aquilo que realmente pensam, porque eu sei que vocês continuam a pensar o mesmo que pensavam quando fiz os meus treze anos, sei que me continuam a olhar de cima a baixo e a pensar "GORDA", assim como pensam todas as pessoas que passam por mim na rua."

Apenas queria sair dali, daquele hospital que ainda hoje lhe sinto o cheiro, aqueles médicos, aquelas pessoas, toda a gente, simplesmente queria que me deixassem em paz e que deixassem de fingir que estão preocupados quando não o sentem. Eu sabia que ia ter de continuar com as sessões no psicólogo, mas eu apenas queria voltar para casa e deixar de ser o centro das atenções.

Liliana