sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Lisboa, 28 de Outubro

Quando acordei, já me encontrava no hospital, rodeada por médicos e enfermeiros. Não tinha noção do tempo, lembrava-me apenas do local em que me encontrava antes de desmaiar, podiam já ter passado horas ou até mesmo dias, mas era como se o tempo parasse, e clicasse agora no play.
Ainda a tentar voltar à minha racionalidade total, tentava ouvir ao longe, o que o médico dizia, e quando me apercebi, a conversa era entre a minha mãe, um médico e um psicólogo, contudo a conversa terminou e não percebi do que se tratava e muito menos porque é que o psicólogo estava incluído nela.
Mais tarde, os três caminharam até junto da minha cama, e explicaram o que acontecera comigo naquele dia. À medida que iam falando, os fantasmas do passado invadiam a minha mente, imagens confusas e desfocadas eram libertadas ao longo do meu pensamento, episódios na minha vida estavam a ser revividos desde o inicio da minha bulimia até ao ponto que ela me destrói. Sentia-me incapaz de pronunciar uma simples palavra e quando voltei a focar as faces dos médicos e da minha mãe, apenas via as lágrimas a escorrerem pela minha face. As lágrimas de uma bulimica e agora de uma anoréctica .
Liliana

sábado, 22 de outubro de 2011

Lisboa, 22 de Outubro

Ninguém é totalmente forte, podemos aparenta-lo mas nunca o somos, mas outros são totalmente fracos e eu sou apenas mais uma fraca no meio deste mundo repleto de gente fraca. Desisto das dificuldades, fugo aos problemas e caiu sempre que encontro uma pedra no caminho como se fosse uma espécie de animal irracional que não aprendesse com os seus próprios erros.
Voltei a cair novamente, mas desta vez a força do embate foi mais intensa do que fora das outras vezes. Desisti novamente e não consegui resistir ao delicioso CBO. Quando me apercebi já me encontrava na casa de banho. Agora já nem necessitava da ajuda dos dedos para que tudo o que tivesse ingerido fosse expulso do meu organismo, o problema é que não era apenas os alimentos que eram expulso, mas junto com eles estava misturado o suco gástrico que passava pelo meu esófago destruindo as suas paredes e que hoje me está a destruir por completo.
Estava agora a perder o resto da minha racionalidade e os meus sentidos estavam escassos, os sons ao longe tornavam-se confusos e apenas me recordo de conseguir ver, desfocadamente, o meu sangue misturado com o vomitado.
Liliana

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Lisboa, 10 de Outubro

Encontro-me agora estendida no chão como uma folha caída em pleno Outono.
Já tinha perdido 5 quilos e desta vez não era porque o desejasse.
Sempre que olhava para a comida, a vontade era imensa, a vontade de poder trincar um croissants e saber que não ia instantaneamente vomitar.
Numa quarta-feira ao sair das aulas cheguei mesmo a entrar numa pastelaria, olhei para os bolos e naquele momento a minha vontade de ingeri-los era mais forte do que a vontade de não querer vomitar. Pedi á senhora dois croissants de chocolate e duas bolas de berlinde, mas assim que a senhora voltou costas para ir buscar os bolos, tomei consciência de que não o podia fazer, portanto de imediato comecei a correr, para que não tivesse tempo de pensar, de deliciar os croissants mentalmente e de voltar para trás para os poder saborear fisicamente. Talvez se fosse hoje, não o fazia da mesma maneira, se fosse hoje era capaz de voltar para trás e ingerir aquelas calorias todas e só depois de vomitar é que me iria arrepender, mas talvez se também fosse hoje eu não teria feito o mesmo que fiz naquela festa e as coisas não chegariam ao ponto a que chegaram.
Liliana

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

No Food

Lisboa, 3 de Outubro

A cada dia que passava, começava-me a sentir mais fraca. Era como se algo me tivesse atingido os músculos, e até mesmo o acto de levantar os pés, emiti-los para a frente e voltar a pousar no chão, era um acto extremamente difícil.
O facto de tentar não ingerir alimentos, era mais difícil do que aparentava ser, não só fisicamente, mas psicologicamente.   A dificuldade de concentração e a minha fraca capacidade intelectual eram umas das poucas consequências de não ter uma alimentação equilibrada.   Mais uma vez, eu sabia  as consequências dos meus actos, mas novamente eu fazia-o, não porque quisesse, mas porque tinha de o fazer...

Liliana